ELES NÃO CHEGAM NO SERVIÇO DE SAÚDE

Homem com capa vermelha

“No Brasil, a luta por acesso à saúde para grupos excluídos se entrelaça com a história do avanço da pandemia do HIV/AIDS, que teve início no final da década de 70. Surgiram movimentos ativistas encabeçados, em grande parte, por homens gays, que logo integraram outras identidades sexuais e de gênero, em especial lésbicas e travestis”. Mas e os homens heterossexuais, onde estavam?

Em um país com dimensões continentais, os dados demográficos podem apresentar variações significativas. Em termos de saúde pública, a rede de atenção básica UBS/UBSF (“Postinho de saúde”) é a principal porta de entrada da população no serviço de saúde e, de maneira geral, há uma falta de atendimento aos homens, como indicam estudos sobre saúde e gênero. Existem diversos fatores que contribuem para essa situação, desde problemas institucionais dos serviços que não estão preparados e são deficitários, até questões individuais relacionadas à construção de modelos de gênero que associam o cuidado com a saúde a comportamentos feminizados.

É crucial ter um Sistema Único de Saúde que se desenvolva e tente abranger toda a população de maneira equânime. Graças à luta dos grupos ativistas das décadas de 70 e 80, as ações afirmativas ainda reverberam na atualidade e permitem que indivíduos tenham acesso a medicamentos que impedem a infecção ou evolução do HIV, o que contribui para evitar o aumento da incidência da doença na população LGBTQIA+. No entanto, os espaços de saúde na rede de atenção primária foram estruturados com foco nas necessidades de crianças, mulheres e idosos.

O Projeto MAN, por meio de atividades em grupo, promove ideias de autocuidado, valorização da vida e perspectivas para o futuro com os homens e identifica, na prática, como a saúde física e mental são frequentemente negligenciadas. Prevalece a crença na invulnerabilidade, expressa em frases como “Eu nunca fico doente”, “Não preciso ir ao médico”, “Não posso perder um dia de trabalho”, “Meu pai viveu bastante sem precisar de médico” e “Quem procura doença acha”. A automedicação acaba sendo uma alternativa paliativa quando algo incomoda. Embora o exame preventivo para o câncer de próstata tenha sido amplamente divulgado, inclusive em meio a piadas, os homens mais velhos consideram essa prevenção importante e talvez seja o único momento voluntário em que um homem procura uma unidade de saúde para autocuidado. Atualmente, a paternidade pode levar alguns homens à unidade de saúde, mas isso geralmente não se mantém ao longo do tempo. Durante as próximas consultas dos filhos, esse papel geralmente é assumido pelas mães, conforme relatos.

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