O PESO DA ESPADA

A incredulidade de São tomé

O que um homem faz é como se todos o fizessem.

Em uma noite de reunião de grupo, numa cidade do interior de São Paulo, uma dessas com nome de origem Tupi, ouvi o relato de um dos participantes sentenciado por violência doméstica contra a mulher, o que me fez pensar no conto do escritor argentino Jorge Luis Borges – “A forma da Espada”.

No início da noite, por volta de 20 horas, abrimos a reunião com cuidado. Os olhares são desconhecidos e desconfiados. São homens que acabam de sentir o peso da caneta, em forma de sentença. Alguns afastados do lar por Medida Protetiva, outros… longe dos filhos.

Difícil dizer o sentimento que conduz a sessão. O que pode aproximar o querido leitor da atmosfera é a densa interrupção de um comentário de um senhor, magro, pálido de cachaça, voz rouca de fumo, dizendo…
“Estou te olhando desde a hora que você começou a falar, e vou te contar já, eu matei um cara e joguei a cabeça dele fora…”

A respiração da sala com cerca de vinte homens tornou-se única. A confissão espontânea foi expressa como se ninguém, nunca, o tivesse ouvido.
“Eu fiz isso porque eu vi esse cara matar meu pai quando eu era pequeno, então… matei ele.”

A forma da Espada de Borges traz uma cicatriz como pano de fundo ou até mesmo centro do tema, dependendo da perspectiva do leitor, como símbolo possível da confissão de um crime.

O desprezo e o prazer que um grupo reflexivo provoca são a reiterada consulta de nossa marca infame. A luz emergindo da sombra, como nos conta Borges – “O que um homem faz é como se todos o fizessem”

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