Por que os homens não choram?

Por que os homens não choram?

Esta estrofe inicial serve para enfatizar que os homens têm a capacidade de chorar, desde a primeira infância até a última fase da vida, com ou sem lágrimas, porque a expressão das emoções é uma parte intrínseca de sua experiência humana. No entanto, é inegável que muitos homens enfrentam uma pressão significativa para ocultar seus sentimentos, evitando chorar, e essa pressão é particularmente acentuada devido ao estereótipo arraigado de que “homens não choram”.

Chorar desempenha um papel essencial na expressão e liberação de emoções, no alívio do estresse emocional e na comunicação de sentimentos com outras pessoas. Contudo, o ato de compartilhar essas emoções é muitas vezes visto como uma vulnerabilidade, o que diverge dos rígidos padrões de virilidade impostos ao papel masculino na sociedade.

A socióloga Raewyn Connell introduz o conceito de “masculinidade hegemônica”, que descreve o padrão dominante de masculinidade em uma cultura específica. Essa forma de masculinidade frequentemente valoriza características como a força, a agressividade, a independência, o controle emocional e a ausência de demonstração de fraqueza. Homens que aderem a esse ideal são frequentemente mais admirados e desfrutam de maior poder e status na sociedade.

O espaço acolhedor proporcionado pelo Projeto MAN, através dos grupos reflexivos, evidencia o quanto a supressão dos sentimentos ocorre ao longo da vida dos homens.

Em uma das atividades, foi aplicada a dinâmica sobre “Qualidades e Não qualidades”, um senhor pegou uma única placa com a palavra “FIEL”, da qual emocionado começou a falar sobre o que representava aquela palavra para ele, com o discurso:

“Eu nunca falei sobre isso, é bem difícil para mim. No passado, quando eu vivia no nordeste, um colega de trabalho se aproximou de mim em particular e me revelou que minha esposa estava me traindo. Questionei como ele havia descoberto isso e por que estava me contando. Ele admitiu que a traição de minha esposa era com ele. Fiquei atordoado com a notícia e imediatamente mandei que ele se afastasse de mim. Naquela região, onde todos carregam armas, a situação se tornou ainda mais tensa. Foi extremamente doloroso chegar em casa e testemunhar a falsidade com a qual minha mulher estava me tratando. Minha mente estava repleta de pensamentos confusos, vontade de agir. No entanto, sempre fui alguém que procurou resolver as coisas de maneira justa. Então, decidi levar minha esposa até a fazenda onde o pai dela morava. Durante o trajeto, mais pensamentos passaram pela minha cabeça, inclusive a tentação de cometer algum erro. Ao chegar lá, confrontei minha esposa e disse que estava devolvendo-a, permitindo que ela se explicasse para o pai. Fiz questão de enfrentar o pai dela, ciente de sua reputação, não dei as costas para ele. O tempo passou, e pela segunda vez, enfrentei a traição em outro relacionamento. Nessa época, eu já estava aqui em São Paulo, trabalhando na Usina, ao lado de outra mulher. A decepção se repetiu quando descobri que ela também estava sendo infiel. Mais uma vez, tive que suportar a dor e o peso da traição, mas, desta vez. Optei por encerrar o casamento e concentrar meu olhar exclusivamente em minhas filhas. Cada vez que retorno ao nordeste, sinto um turbilhão de emoções. A simples visão do mar traz lembranças poderosas, e é preciso grande força para não permitir que essas memórias não me dominem. E agora, mais uma vez, me deparo com a ironia da palavra ‘fiel’. É curioso como, apesar de sempre ter sido leal, a traição esteve presente em minha vida.”

A participação em grupos reflexivos pode ter um impacto significativo, facilitando a exploração dos sentimentos pessoais e destacando a importância da assistência profissional para a saúde mental.