Porque existem mais homens em situação de rua?

Porque existem mais homens em situação de rua?

A condição das pessoas em situação de rua no Brasil é alarmante, como evidenciado pelos dados recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2022, o número de pessoas vivendo nas ruas atingiu a assustadora marca de 281,4 mil, e mais de 80% dessa população é composta por homens.

Esse grupo populacional diversificado compartilha características marcantes que contribuem para sua condição de vulnerabilidade. A extrema pobreza é uma constante em suas vidas, frequentemente acompanhada pela baixa escolaridade e, em muitos casos, pela fragilização ou ruptura dos laços familiares. É importante destacar que, em muitos casos, essa população enfrenta desafios relacionados à sua orientação sexual, o que afeta de forma especialmente intensa os indivíduos transexuais. Além disso, é possível observar que muitos sofrem com problemas de saúde que impactam sua capacidade de trabalho. Grande parte não tem acesso a uma moradia convencional regular e, em vez disso, depende de espaços públicos degradados como moradia e fonte de subsistência, seja de forma temporária ou permanente.

As dificuldades enfrentadas diariamente por essas pessoas são impressionantes e revelam a necessidade urgente de intervenção e apoio. Encontram obstáculos para acessar as principais políticas públicas, incluindo saúde, educação, assistência social, programas de apoio financeiro, moradia, segurança, cultura, esporte e lazer. Além disso, enfrentam a escassez de oportunidades de emprego e renda, tornando difícil a saída desse ciclo de vulnerabilidade. A rede de assistência social também é escassa e inclui Centros de Referência para População em Situação de Rua (Centros Pop), abrigos e casas de passagem, muitas vezes vinculados a organizações religiosas. Infelizmente, muitos deles têm dificuldade em obter simples documentos de identificação básicos.

Os principais fatores que levam esses homens a viverem nas ruas são complexos e interligados. O desemprego é um fator significativo, muitas vezes relacionado a conflitos familiares, que podem resultar em rupturas de vínculos. A dependência química e problemas de saúde mental também são desafios comuns que podem agravar a situação. Além disso, o envolvimento com o narcotráfico pode levar a consequências devastadoras.

É fundamental entender que a situação de rua não é culpa exclusiva do indivíduo. Em vez de culpabilizá-los, é importante oferecer apoio, reconhecendo a coragem que é necessária para buscar assistência e reconstruir suas vidas.

Você já se perguntou o que causa esses 80% de homens que vivem nas ruas?

É claro que essa é uma questão na qual a igualdade não traz benefícios, e todos nós esperamos que, a cada dia, haja menos pessoas nessa situação, independentemente do gênero. No entanto, é importante refletir sobre isso. Quando trabalhamos com homens atendidos pelo Grupo MAN, é notável como a palavra ‘honra’ surge frequentemente nas reflexões que propomos sobre o que significa ser homem. Mesmo que esses homens não estejam em situação de rua, ainda carregam consigo essa noção de ‘honra masculina’

A ideia de honra, frequentemente associada a conceitos de masculinidade, pode levar esses homens a resistirem a mostrar vulnerabilidade ou a pedir ajuda. Eles podem acreditar que admitir que estão em uma situação de necessidade os tornará menos “homens”, é prejudicial tanto para sua autoestima quanto para sua disposição em procurar ajuda seja, em um momento pré-rua ou já em situação de rua.

No entanto, é importante reconhecer que a busca de apoio e assistência não diminui a honra de ninguém. Pelo contrário, é um ato de coragem e autossuficiência reconhecer quando se precisa de ajuda e buscar as ferramentas necessárias para melhorar a própria vida. A verdadeira honra está em superar adversidades e em ajudar a si mesmo e aos outros a alcançar uma vida digna e plena.

É fundamental que os programas de assistência à população em situação de rua considerem essas questões de honra e autossuficiência ao oferecer ajuda. Os serviços podem ser sensíveis às necessidades e desejos desses homens, respeitando sua dignidade e incentivando a busca de apoio sem julgamentos, assim os serviços contribuem para uma reconstrução da masculinidade mais saudável e quebra do ciclo de violências. A superação das barreiras da honra e do orgulho pode ser um passo fundamental para ajudá-los a reconstruir suas vidas e encontrar um caminho para longe das ruas.

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