SERÁ QUE NÃO ESTAMOS DISTANTES UNS DOS OUTROS?

Walt Withman

“Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim.” Walt W.

Em toda relação humana levamos um pouco de nossos pais, nossas mães, irmãos, irmãs, amigos. O que nos define como seres humanos, – uma forma considerável de nos tornarmos conscientes, é a percepção da qualidade de nossas relações.

O destro escritor Walt Withman, considerado o precursor do verso livre, e um dos filósofos da revolução americana, em sua conhecida afirmação diz, -“Há multidões dentro de mim”, o que corrobora o pensamento de que muito do que carregamos, são resíduos de nossas convivências, memórias, cicatrizes e alegrias.

A dor causada por um grupo reflexivo, – a ferida narcísica, de que não somos o centro do universo, se assemelha ao filme que vemos o protagonista contar nossa história, ou de nossos avós, proporcionado a compreensão que somos seres essencialmente relacionais.

A cultura machista do homem do sertão, enaltecida em figuras como Lampião, – o homem que defende sua honra, mesmo com verniz de cooperação social, é um alarido nos escombros da cultura violenta, e uma barreira para o diálogo aberto, “é o homem que aguenta tudo sozinho, esse negócio de ir em hospital, e aceitar ajuda, é frescura”.

Diante dessa realidade, Pichon Riviere, psicanalista propõe uma alternativa que pode ser usada em linguagem de dias de semana como diria nosso João Guimães Rosa, é um desafio, mas possível operar grupos tanto em escolas, quanto em empresas e toda sociedade civil, letrado, ou desprovido de ensino, a teoria de Pichon é generosa, pensada para o bem estar social, independente de formação, ou nível acadêmico.

O grupo MAN, como toda sociedade civil está em busca da pacificação social, e igualdade de direitos, consoantes em promover o bem estar de todos conforme o inciso IV, art.3 da Constituição Federal, um dos objetivos da República Federativa do Brasil, e pilares do sentimento de fraternidade, e solidariedade que sustentam os fundamentos da civilização humana.

Withman, enaltece nossas limitações com franqueza de espírito -“sou contraditório”.

Em tempos de nos apresentarmos perfeitos nas redes sociais, como meio de recompensa imediata do ego, – reconhecer nossas limitações, em condições de igualdade- (um dos anseios iniciais dos homens sentenciados por Medida Protetiva), em processo grupal, pode ser libertador como caminhar por uma floresta.

O grupo operativo é um elemento essencial para o desenvolvimento dessa troca de lentes, já desatualizada, é uma ferramenta capaz de atualizar o homem do século XXI, contemplar o que o pixel não captura – O peso de uma lágrima, o calor de um abraço, o ponto final de uma página…que pode ser apenas vírgula de um novo capítulo.

Há de se compreender o motivo do Brasil ser o país com mais números de pessoas que consomem remédio para ansiedade e para dormir no mundo (OMS), e o segundo em consumo de redes sociais, perdendo apenas para os Estados Unidos, berço do autor de Folhas de Relva. Ao passo que a perfeição das redes sociais busca os trilhos artificiais pela perfeita condição estética, – um piquenique em família, uma roda de violão, o contemplar de um pôr do sol, possam ser alternativas psicológicas, medicinais, já testadas pela Teoria de Vínculo de Pichon.

Será que não estamos distantes uns dos outros?

Será que corações de bexiga em mesa de restaurantes nas datas comemorativas de dias dos namorados são símbolos de verdadeira conexão e amor?

Talvez o problema seja a qualidade do sinal de Wifi, não ser tão veloz.

Essa policonsciência, querido(a) leitor(a) nos faz pensar nos avanços da ciência moderna, capaz de tratar pacientes oncológicos, ou até mesmo cirurgias a distância em tempo “real”.

Há cada vez mais interesse no avanço de doenças emocionais relacionadas ao uso desenfreado da internet, não raro, suicídios são cometidos pela busca de algo, ou um jeito de por fim definitivo ao sofrimento passageiro.

Crianças, sendo reféns de ataques brutais por grupos do submundo da internet, permeados de segregacionismo, ressentimento, atraídos pelo anseio de pertencimento.

Em uma de suas indagações, o professor Dr. Laszlo Avilla, no curso de manejo de Grupo Operativo- Teoria e Técnica, ministrada no projeto Ninho do Bebê de São José do Rio Preto-SP, trouxe a reflexão “antigamente o casamento tinha o objetivo de ter filhos, e construir uma família, e hoje, qual é o nosso objetivo?”.

Somos multidões, ar, água, terra, e fogo, e se direcionarmos nossos esforços, de maneira fraterna, com sentimento sincero de cooperação social, compatível ao que rege o art. 226 da Constituição Federal, – “A família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado”-, políticas públicas que despertem, e tornem possível a percepção da onipresença  de grupalidade, digo como integrante de Grupo Reflexo… 

confesso ser um otimista, e quem sabe, neste sentido nossas crianças possam paulatinamente serem estimuladas a compreender, que, a internet sim, é divertida, mas não se compara com o vento no rosto, ver um arco-íris, estrela cadente, Três Marias, ou o anel de Saturno, passear de mãos dadas. Oportunidade capaz de se forjar uma aliança indelével no coração deste vínculo, – a música dos pássaros, sentir o cheiro, cor e movimento da primavera. Talvez esse texto possa ser de um sonhador, mas Pichon-Rivieré, entre tantas outras multidões em comum, me garantem que não o único.

 “Em tempos de incertezas e calamidades, é essencial desenvolvermos projetos sociais que fortaleçam nossas esperanças”. Pichon Riviére.

Ao amigo Agilson de Araújo, e caro professor Laszlo.

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